Caros profissionais da saúde:
Em 1984, por iniciativa do Dr. Rocha Marques, na altura diretor do Serviço de Doenças Infeciosas, realizou-se, no Porto, o 1.º Encontro de Atualização em Infeciologia com o objetivo de assegurar, de dois em dois anos, a renovação de conhecimentos de profissionais médicos desta e de outras áreas da saúde. Ao fim de 39 anos estamos a apresentar a programação do 18.º Encontro. A longevidade destas reuniões justifica a justeza da iniciativa e evidencia que as doenças infeciosas sempre nos surpreendem. Contrariando eminentes colegas que, na década de 60 do século passado, aconselhavam a fechar os compêndios de doenças infeciosas porque elas iriam desaparecer, novos microrganismos trouxeram outras preocupações e problemas aos serviços da saúde. A Infeciologia é, hoje, uma área em permanente transformação, devido ao aparecimento de novos agentes infeciosos ou à reemergência de velhos conhecidos, obrigando a uma atualização constante de conhecimentos. Continuamos preocupados com o recrudescimento da resistência de alguns microrganismos aos fármacos antimicrobianos.
Na década passada, registámos a chegada de casos de dengue à ilha da Madeira, tratámos casos de dengue em emigrantes regressados de Angola e fomos surpreendidos por surtos de sarampo. Nessa altura, estávamos atentos à chegada eventual a Portugal de casos de Chikungunya ou de Zika. No final de 2019, tomámos conhecimento que um novo coronavírus, o SARS-CoV-2, tinha uma capacidade de transmissão elevada e estava a causar, na China, pneumonias com mortalidade excessiva.
Em março de 2020, chegou ao nosso país a primeira vaga de casos de COVID-19. Apesar das dificuldades iniciais traduzidas em falta de equipamentos e de preparação dos profissionais perante uma ameaça desconhecida, podemos concluir que o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) deu uma resposta de grande mérito sem poupar esforços. A pandemia desorganizou muitas das estruturas do SNS, o que teve impacto no atendimento dos doentes. Chegaram vacinas, tomaram-se outras medidas de prevenção e conseguimos, na nossa perspetiva, controlar a pandemia. Mas, não erradicámos este vírus e não podemos dizer que ganhámos a guerra. Em 2022, o monkeypox, o ressurgimento de surtos de vírus sincicial respiratório e o aparecimento de hepatites graves em crianças ainda sem diagnóstico claro, foram motivo de discussão e de maior atenção.
A infeção por VIH/SIDA, que tanto nos preocupou a partir da década de 80, tem sido controlada com a produção de antirretrovíricos eficazes e seguros. Estão a ser produzidos novos fármacos com capacidade de vencer resistências em doentes multitratados. Serão discutidos novos tratamentos para os vírus das hepatites B e D que dão esperança que o controlo e/ou a erradicação destes vírus será possível. A eliminação da infeção por VHC será também um tema de relevo.
Na elaboração deste Programa, procuramos oferecer um conjunto de temas clássicos ou inovadores que pudessem ter impacto na atualização teórica e prática dos participantes. Os problemas que acima enunciamos serão discutidos durante a nossa reunião.
Na lista anexa de palestrantes, poderão verificar que reunimos neste Encontro nomes dos mais prestigiados da Infeciologia e de outras áreas da medicina portuguesa. Permitam destacar a presença de palestrantes estrangeiros de grande prestígio internacional. Contaremos com colegas da Alemanha, de Angola, do Brasil, de Espanha, dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, de Itália e de Moçambique.
Continuaremos a realizar sessões de apresentação de comunicações orais e posters que serão apreciadas por um júri de grande prestígio. As melhores comunicações orais serão premiadas pelo que deixamos, desde já, o convite para que apresente os seus trabalhos.
Esperamos que o 18.º Encontro seja, como tem sido, o ponto de encontro de centenas de médicos e outros profissionais que nos têm honrado com a sua presença. Esperamos ainda que o Encontro permita a troca de conhecimentos e de experiências e o aprofundamento das relações de amizade e colaboração entre quem se dedica a esta área da Medicina e com todos os profissionais que no ambulatório constituem, com grande empenhamento e mérito, a primeira linha de luta contra as infeções.
Porto, março de 2023.
Rui Sarmento e Castro – Presidente da AARI
António Ludgero Vasconcelos – Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do CHUdSA